Pensando sobre o natal e seus impactos psicológicos

Neste post faço uma reflexão sobre este período de Natal. Para uns, tempo de festa, comunhão na família, trocas de presentes. Para outros, o nascimento de Jesus, o Salvador do mundo, aquele que tem o poder de trazer a paz e a harmonia entre os povos. No entanto, também pode ser uma época que traz angústia, solidão, podendo ser um período muito difícil para outras pessoas. Qual é o sentido que você dá para o Natal?

Daniel Andrade

12/24/20244 min read

Eu nasci em uma família cristã. Aprendi desde cedo que Jesus veio ao mundo para nos salvar. Seu nascimento significaria, então, o verdadeiro sentido do Natal. Desde pequeno, tive contato com os ensinamentos bíblicos e aprendi o versículo escrito em Isaías 9:6: "Porque um menino nos nasceu, um filho se nos deu, e o principado está sobre os seus ombros; e se chamará o seu nome: Maravilhoso, Conselheiro, Deus Forte, Pai da Eternidade, Príncipe da Paz". Se você não sabe, esta profecia foi escrita 700 anos a.C. Então, diferente de outras famílias, nunca acreditei em Papai Noel. Apesar disso, na escola eu sempre respeitei os diferentes sentidos do Natal. Gostava, por exemplo, de filmes como "Esqueceram de Mim" (1990) e "O Natal de Charlie Brown" (1965), entre outros.

Tenho uma família bem grande. Lembro dos almoços e jantares de Natal, com os primos brincando ao redor da mesa da cozinha e as tias gritando: "Vocês vão se machucar! Devagar!". O tio churrasqueiro fazendo piadas enquanto partia aquela carne assada. A tia que contava as fofocas do condomínio e o momento do "Amigo Secreto", quando eu dava um presente caro e recebia um barato, mas sempre com um sorriso no rosto (aprendi desde cedo a ser grato pelas coisas que recebi).

Pois bem, nossas vivências de Natal são diferentes. Nunca irei assumir o lugar de dizer que minha experiência foi melhor ou pior que a sua. Nossa existência é única. É natural nos sentirmos sozinhos em diferentes momentos. Não apenas no Natal, mas em muitas outras experiências. Lidar com nosso projeto existencial é um desafio. Reconhecer que meu lugar no mundo é insubstituível; que para eu amar os outros eu tenho que conseguir me amar também; acreditar que, embora nós passemos por muitas circunstâncias difíceis, temos um potencial interior para mudança e transformação; e que os problemas não durarão para sempre é fundamental para nosso bem-estar.

O Natal, por sua natureza simbólica e emocional, tende a despertar em nós reflexões profundas sobre a vida, nossas relações e até mesmo sobre nossa própria existência. Sob a ótica da Psicologia Existencial, essa época do ano pode ser uma oportunidade para revisitarmos nossas escolhas, avaliarmos o sentido que damos à vida e refletirmos sobre nossa conexão com os outros e conosco mesmos. Afinal, somos seres em constante busca por significado, e o Natal, com toda a sua carga cultural e emocional, nos convida a olhar para dentro e também para os lados.

Para muitas pessoas, o Natal é um momento de celebração e conexão familiar, como nas memórias descritas anteriormente. Mas para outras, pode ser uma época marcada por solidão, ausência e saudade. Aqueles que perderam entes queridos, enfrentam conflitos familiares ou vivem um distanciamento emocional podem sentir o peso de expectativas sociais que não refletem suas realidades. Essa disparidade entre o ideal de "Natal perfeito" e a experiência concreta vivida por cada um pode gerar angústia. Kierkegaard, filósofo existencialista, nos lembra que a angústia é inerente à condição humana, e, embora desconfortável, ela pode ser uma oportunidade para enfrentarmos nossas verdades mais profundas.

Nesse sentido, é essencial nos permitirmos acolher nossas emoções sem julgamento. Se há tristeza ou vazio, esses sentimentos são legítimos e fazem parte da jornada humana. Reconhecer o que sentimos é o primeiro passo para cuidarmos de nós mesmos. Viktor Frankl, outro importante pensador existencial, afirmava que o sofrimento pode ser suportável quando encontramos um significado para ele. Assim, o Natal pode ser ressignificado não como uma obrigação de estar feliz, mas como um momento de pausa para refletir sobre o que realmente importa para cada um de nós.

Além disso, o Natal também pode ser visto como um convite à autenticidade, um valor central na Psicologia Humanista Existencial. Carl Rogers nos ensinou que o caminho para o crescimento pessoal passa pela aceitação incondicional de quem somos, com todas as nossas imperfeições. Não precisamos nos forçar a encenar uma alegria que não sentimos; em vez disso, podemos buscar maneiras autênticas de vivenciar o Natal, alinhadas aos nossos valores e necessidades.

Por exemplo, se as grandes festas não fazem sentido ou trazem mais desconforto do que alegria, que tal criar uma tradição própria? Uma caminhada ao ar livre, uma refeição especial com poucos amigos, ou mesmo um momento de silêncio e introspecção podem ser formas válidas e significativas de celebrar a data.

No fundo, o Natal nos desafia a lidarmos com nossa liberdade de escolha, outro conceito existencial importante. Como queremos viver este momento? Que significado queremos atribuir a ele? A liberdade, como nos lembra Sartre, traz consigo a responsabilidade de sermos autores de nossas próprias vidas. E isso inclui reescrever narrativas, abandonar expectativas irreais e criar novas formas de celebrar que estejam conectadas ao que somos no presente.

Portanto, independentemente de como você vive o Natal — se em família, sozinho ou de uma maneira não convencional — lembre-se de que a sua experiência é válida. O verdadeiro sentido do Natal, dentro de uma perspectiva existencial, talvez seja esse: um convite para se conectar com o que há de mais humano em nós, para acolher tanto a alegria quanto a melancolia, e para lembrar que, mesmo nos momentos de maior solidão, sempre podemos encontrar um significado maior em nossa caminhada.

Este texto fez sentido para você? Envie uma mensagem para meu e-mail e me conte mais sobre o sentido do Natal para você.

Abraços

Daniel Andrade